Começando
"(...) Minha boca fala o que meus olhos lhe disseram para falar. Teria nossa visão sido estreita demais, preconceituosa demais ou apressada demais? Teriam nossas conclusões sido muito rígidas? Talvez, mas é assim que a máquina de escrever interpreta os impulsos desbaratados que me fizeram pressionar as teclas, e esses impulsos fugazes já estão mortos. Além disso, ninguém pode responder por eles. A pessoa que tomou estas notas morreu no dia em que pisou novamente o solo argentino. A pessoa que está agora reorganizando e polindo estas mesmas notas, eu, não sou mais eu, pelo menos não sou o mesmo que era antes. Esse vagar sem rumo pelos caminos de nossa Maíuscula América me transformou mais do que me dei conta.
Qualquer manual de técnicas de fotografia pode mostrar uma paisagem noturna com a lua brilhando no ceu e um texto ao lado que revele os segredos dessa escuridão iluminada. Mas o leitor deste livro não sabe que espécie de fluido sensitivo recobre minha retina, eu próprio não o sei com certeza, então não é possível examinar os negativos para encontrar o exato momento em que minhas fotos foram tiradas. Se eu mostrar uma foto noturna, você, leitor, é obrigado a aceitá-la ou recusá-la por inteiro, não importa o que pense. A menos que você conheça as paisagens que eu fotografei em meu diário, será a obrigado a aceitar minha versão delas. Agora, eu o deixo em companhia de mim, o homem que eu era..."
Ernesto Che Guevara em "Diário de Viagem, de moto pela América do Sul"
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